A ginkgo já é famosa por suas
façanhas. O extrato obtido de suas folhas comprovadamente reduz as
tonturas, refresca a memória, alivia as dores nas pernas e nos
braços e acaba com o zumbido no ouvido. Por tudo isso ela arrebanhou
uma vasta clientela, composta na maior parte por idosos. Mas
suspeita-se que o poder dessa planta de folhas de formato de leque
vá além. Estudos realizados em laboratório e com seres humanos
sugerem sua capacidade de prevenir e atacar tumores — mais um
importante item que se acrescenta ao seu currículo.
Uma das pesquisas que obtiveram resultados mais estrondosos foi
concluída no final do ano passado. Ao todo, 1 388 mulheres foram
acompanhadas por seis meses. Todas relataram tomar algum tipo de
remédio fitoterápico — equinácea, ervade- são-joão, ginseng e ginkgo.
As que ingeriram esta última diariamente tiveram uma incidência 60%
menor de tumores de ovário. Para entender o que estava ocorrendo, os
surpresos cientistas levaram a ginkgo para dentro do laboratório. Lá
misturaram o extrato da planta a culturas de células de ovário
cancerosas. Bastou uma pequena dose para que o crescimento delas
fosse reduzido em 80%.
ESTUDO PIONEIRO
Foi a primeira vez que se vislumbrou uma relação entre a ginkgo e o
combate ao câncer de ovário. "Como o nosso estudo é pioneiro, as
conclusões precisam ser confirmadas por novos trabalhos", disse à
SAÚDE! Daniel Cramer, diretor de Obstetrícia e Ginecologia
Epidemiológica do Brigham and Women`s Hospital, ligado à Escola
Médica Harvard, nos Estados Unidos. "Até que outras investigações
sejam feitas, acredito que mulheres com mais de 50 anos e histórico
familiar de câncer de ovário deveriam considerar tomar ginkgo", diz
ele.
Quando se fala em tumores em geral, o relatório de Cramer não é tão
inovador assim. Mais de 50 estudos sobre ginkgo e câncer já foram
catalogados. Em 2002 uma pesquisa conduzida pelo grego Vassilios
Papadopoulos mostrou em laboratório e em testes clínicos que a
ginkgo inibe o crescimento agressivo de tumores de mama. Também
existem trabalhos sobre câncer cerebral e de fígado. "Essa já não é
uma área de pesquisa em sua infância", diz Nise Yamaguchi,
pesquisadora da USP e vice- presidente do Núcleo de Apoio ao
Paciente com Câncer, em São Paulo. "Já existem muitos estudos
consistentes. E com conclusões parecidas."
A maneira como a ginkgo e seus componentes agem em escala celular
ainda não foi totalmente decifrada, mas há algumas hipóteses.
"Talvez a planta esteja envolvida com a habilidade do organismo de
causar apoptose, a morte programada de células defeituosas", diz
Cramer (veja infográfico na próxima página). Outras estratégias
descritas em diferentes trabalhos são sua habilidade para inibir os
vasos que alimentam o câncer e sua capacidade de evitar danos ao
DNA. Esses efeitos são obtidos por meio da ação de duas substâncias,
os terpenóides e os bioflavonóides. Os primeiros viraram objeto de
estudo mais recentemente. Os bioflavonóides, contudo, são conhecidos
de longa data. Agem como antioxidantes, combatendo os radicais
livres e impedindo o envelhecimento. Ambos fazem parte do mesmo
extrato, o EGb 761 — matéria-prima dos comprimidos vendidos em
farmácias.
O comprimido de ginkgo biloba desencadeia diversas reações que vão
desde os pés até os ouvidos. Os vasos sangüíneos se dilatam e o
sangue fica menos viscoso (mais "fino", como se diz). Assim, corre
mais rápido, com mais facilidade, e alcança melhor os lugares mais
distantes do coração. O labirinto, estrutura que pertence ao ouvido,
passa a ser mais bem irrigado e oxigenado, o que ajuda a acabar com
tonturas e zumbidos. As áreas do cérebro responsáveis pela memória e
pelo raciocínio ficam mais despertas. O fluxo mais intenso também
acaba com as dores nos braços e nas pernas, comuns na terceira
idade. "A ginkgo produz muitos resultados e por isso divide com a
ervade- são-joão o título de planta mais estudada na atualidade",
afirma João Batista Calixto, professor de farmacologia da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e autoridade
brasileira em medicamentos fitoterápicos.
Entre todas as benesses creditadas à planta, uma passou a ser
questionada recentemente. É a que se refere à contribuição da ginkgo
aos pacientes com Alzheimer. "Possivelmente o benefício seja
alcançado apenas se a droga for utilizada de forma preventiva, anos
antes do início da doença", diz Orestes Forlenza, psiquiatra e
pesquisador do Laboratório de Neurociências da Universidade de São
Paulo. "Os estudos clínicos da ginkgo para o tratamento de demências
não demonstraram vantagens consistentes, possivelmente porque já era
tarde demais e o tamanho do efeito era muito pequeno para modificar
o curso clínico", explica o pesquisador, que fez uma revisão da
literatura médica sobre o assunto.
São raros os casos de efeitos colaterais advindos da ingestão de
ginkgo, mas não se pode ignorá-los. O remédio possui tarja vermelha
e só pode ser vendido com receita médica (a dose máxima recomendada
é de 240 mg/dia). Esse cuidado existe porque, ao dilatar os vasos
sangüíneos, a ginkgo pode provocar enxaqueca e aumentar a
sensibilidade da pele, causando alergias. Esse problema é maior nas
cápsulas de pó macerado e nas folhas para chá, vendidas em lojas de
produtos naturais. Além de ter a eficiência questionada (veja o
quadro na próxima página), elas possuem grandes quantidades de um
ácido capaz de irritar a pele. Ao afinar o sangue, a planta também
pode causar sangramentos (antes de submeter um paciente a cirurgia,
os médicos costumam pedir que cesse a ingestão do comprimido). Na
bula do medicamento há ainda advertências com relação a distúrbios
gastrointestinas e queda de pressão arterial. "A ginkgo é uma planta
segura, mas deve ser usada com cautela", resume o americano Daniel
Cramer. |