"Daí
sobem os riscos de diabete e complicações cardiovasculares", conta a
nutricionista Carolina Chica, da Unidade de Doenças Cardiovasculares
da Pontifícia Universidade Católica do Chile. Tem mais: na pesquisa,
a chia livrou o fígado de adiposidade. "Esse quadro, conhecido como
esteatose hepática, pode culminar em danos permanentes no órgão",
informa a nutricionista chilena.
A enxurrada
de benefícios parece ter um denominador comum, que atende pelo nome
de ácido alfalinolênico - ou ALA, para simplificar. Trata-se de uma
fração do ômega-3, gordura poli-insaturada encontrada aos montes na
chia. Seu trunfo: combater a inflamação detectada no corpo devido à
obesidade e que prejudica órgãos como coração, fígado, cérebro...
"Acontece que esse ácido graxo ajuda a reduzir a produção de uma
enzima chamada SCD1. Quando isso ocorre, há menor liberação de
substâncias inflamatórias no organismo", esclarece a nutricionista
Sandra Soares Melo, da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em
Santa Catarina.
Gordura na
cintura? Perigo!
O peso excedente, vale ressaltar, é um dos principais culpados pela
síndrome metabólica, que contribui para piripaques cardiovasculares,
a exemplo de infarto e derrame. "A tal síndrome é diagnosticada
quando o paciente apresenta concentração de gordura abdominal e pelo
menos mais dois fatores de risco, como glicose e triglicérides
elevados, entre outros", descreve a endocrinologista Cíntia Cercato,
da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, em São
Paulo. Ainda bem que a semente de chia, com seu ácido graxo
anti-inflamatório, protege contra todo esse chabu.
A comprovação vem da Universidade Nacional Autônoma do México.
Inicialmente, os cientistas pediram a voluntários com aquele combo
de problemas que deixassem de consumir 500 calorias no seu dia a
dia. Duas semanas depois, dividiram o pessoal em duas turmas.
Enquanto uma ingeriu uma bebida à base de proteína de soja, aveia e
chia, a outra recebeu uma mistura inócua. Em dois meses, todo mundo
apareceu no laboratório com a barriga mais enxuta. Mas só o grupo
que tomou o líquido com a semente viu fatores intimamente associados
ao mal perderem força. "O mais interessante é que as duas turmas
emagreceram igualmente, o que nos leva a concluir que a bebida foi,
de fato, a grande responsável pela melhora da síndrome", reflete
Cíntia.
Aproveitando que o assunto aqui gira em torno do coração, não dá
para esquecer que o ômega-3 da chia ainda favorece a redução da
pressão arterial. "Na prática, ele diminui a formação de tromboxano,
uma molécula que estimula o aperto dos vasos. Por outro lado,
aumenta a síntese de prostaciclinas, que são vasodilatadoras",
ensina a nutricionista Anna Carolina Di Creddo Alves, do Instituto
do Coração, na capital paulista. Sem falar que esse tipo gorduroso
evita a oxidação do colesterol LDL, processo que o torna um
verdadeiro vilão para o peito - afinal, é nesse formato que a
molécula propicia o desenvolvimento de placas nas artérias.
Não vá pensando que a semente é indicada só para quem está com a
saúde desajustada. Lá atrás, quando maias e astecas se deliciavam
com o alimento, a intenção era aperfeiçoar a resistência física.
Hoje, estudiosos da Universidade do Alabama, nos Estados Unidos,
sabem que a estratégia funciona. Por um período, antes de provas
longas, eles deram isotônico a seis atletas amadores. Depois, os
voluntários tomaram uma mistura desse líquido com uma bebida à base
de chia. Após cada intervenção, os rapazes correram por uma hora na
esteira e mais 10 quilômetros em uma trilha. Acabada o suadeira, a
surpresa: "Concluímos que o ômega-3 do grão melhora o rendimento dos
atletas na mesma medida que o carboidrato do isotônico", revela
Travis Illian, autor do projeto.
Para o cientista, a principal vantagem da descoberta é oferecer aos
esportistas um substituto à altura para os tradicionais isotônicos,
cheios de açúcar. Mas, se você não pretende participar de uma
maratona, uma boa pedida é usar a farinha ou grão de chia duas horas
depois dos exercícios. Assim, dá para aproveitar as fibras solúveis
que a semente esbanja. "Essas substâncias retêm água, o que prolonga
a hidratação e a presença de minerais no organismo", explica a
nutricionista Paula Crook, da PB Consultoria em Nutrição, em São
Paulo.
Foi justamente nessas versões, ou seja, semente e farinha, que a
nutricionista Sandra Soares Melo, da Univali, levou o alimento
andino para o laboratório. O objetivo era comparar a ação de ambas
as variedades em temperatura ambiente e aquecidas. "Vimos que, por
causa das fibras, todos os tratamentos estimularam o trânsito
intestinal nos animais analisados", conta.
Contudo, quando a pesquisadora e seus alunos avaliaram o estresse
oxidativo - fator relacionado a doenças como diabete e câncer -,
ficou evidente que ele só foi amenizado quando as cobaias ingeriram
o farelo que não passou pelo fogo. "Ele não apresenta gordura como a
semente. E a substância é a principal a sofrer oxidação. Esse
processo também é facilitado quando a temperatura está elevada",
justifica Sandra. Logo, se a ideia é barrar o estresse oxidativo, já
sabe: a farinha ao natural é a melhor opção.
Agora, se estiver de olho em uma ação mais global a favor do
funcionamento do corpo, as sementes saem na frente. Basta consumir
duas colheres de sopa todos os dias. Só duas mesmo. "Como a chia tem
muitas fibras, pode dificultar a absorção de alguns minerais, além
de desregular o intestino se não houver consumo adequado de água",
frisa o nutricionista José Aroldo, diretor da Nutmed, no Rio de
Janeiro. Seguindo essa recomendação, certamente você terá tantos
motivos quanto as civilizações antigas para idolatrar a semente de
chia.
Se a
intenção é perder peso...
Seu principal
objetivo com a chia é mesmo afinar a cintura? Então faça o seguinte:
deixe a semente na água por pelo menos 40 minutos. Quando a mistura
se transformar em um gel, adicione suco de uva sem açúcar para obter
uma espécie de sagu. "Consuma no café da manhã ou no lanche do final
da tarde. Dessa maneira, você evita abusos nas principais refeições
do dia", aconselha a nutricionista funcional
Vanderlí Marchiori,
de São Paulo.
fonte
revista saúde abril|
fotos
Alex Silva |
fonte da receita José Aroldo, nutricionista da Nutmed, no Rio de
Janeiro | fonte Tecnical & Nutritional
Data Sheet 2008 | produção Andrea Silva | produção
culinária Silvia Marques | objetos M. Dragonetti
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